sábado, 15 de janeiro de 2011

O Amor Cristão

 
O belíssimo “Hino ao Amor Cristão”, deixado por Paulo, apóstolo de Cristo, na primeira Carta que escreveu aos Coríntios, é bastante famoso. Em casamentos, nas igrejas, livros e até na música brasileira é usado. Renato Russo usou-o em uma de suas canções completando que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. O trecho bíblico está na boca das pessoas. Compreende os versículos de 1 a 13 do 13º Capítulo da mencionada carta. Do que as pessoas não se deram conta, é do primeiro versículo do próximo capítulo, o de número 14: “portanto esforcem-se para ter amor...”.
 
Lendo o capítulo 13, nos parece inatingível esse amor. Temos a idéia de que só Deus pode amar assim, com tamanho altruísmo. Mas Paulo deixa claro: é preciso nos esforçarmos se quisermos atingir a plenitude do amor cristão.
 
Cristo deixou dois mandamentos únicos, dizendo que neles estão resumidos toda lei e os profetas. Pediu que a)amemos a Deus de toda alma, coração e entendimento e b)ao próximo como a nós mesmos.(2)
 
Amar a Deus não é simplesmente crer que ele existe. Na Carta de Tiago, o autor até ironiza esse pensamento vindo de parte dos cristãos: “você crê que Deus é um só? Ótimo! Os demônios também crêem e tremem de medo. Seu tolo! Vou provar-lhe que a fé sem ações não vale nada(3)”. Ora, amar a Deus não é apenas confessar a Sua existência, ou ir à Igreja uma ou dez vezes por semana. Amar a Deus é, sim, mais do que isso: é fazer a Sua vontade, sendo fiel à Sua Palavra.
 
Amar ao próximo, também não quer dizer sentir afeto pelo próximo. Jesus manda: “ame os outros como você mesmo”. Será que apenas sentimos afeto por nós mesmos? É claro que não. Quando cometemos falhas nos aceitamos como somos, ora tentando corrigir tais falhas, ora não. Quando me amo, me aceito. E quando amo, de verdade, o outro, também o aceito. Amor é sinônimo de aceitação.
 
O amor corrige sim. Mas essa correção jamais vem na forma de vingança. Quando erro e busco a correção, eu primeiro admito dado erro, admito a minha falibilidade humana e, posteriormente, tento encontrar a solução. Eu não fico me punindo, não tento me vingar de mim mesmo. Ora, se assim me comporto em relação a mim, é meu dever, cristão que sou, me comportar assim com o outro. Eu sou Servo de Cristo e o devo obediência. Embora seja também privilegiado pela obediência a este mandamento.
 
A verdade é que Cristo e Paulo nos deixaram a chave da felicidade quando nos falaram desse amor. Um amor do-ação. É preciso esforço para atingi-lo sim. Muito esforço. Somos humanos e a natureza humana é carnal; é extremamente egoísta. Ficamos nos projetando no outro, quando deveríamos apenas amá-lo. Mas é sabido por nós que a prática leva à perfeição. Se buscássemos o amor, em excelência, como dom espiritual, (que é nos concedido pelo Espírito Santo através do fiel cumprimento à Palavra) viveríamos em paz. Seríamos uma sociedade mais justa.
 
Amar o próximo é aceitar a sua condição carnal, que é suscetível ao erro, “é imperfeita como a imagem de um espelho embaçado”(4). A partir do momento em que compreendo isso, passo a não ter o outro como posse minha e o acolho como “indivíduo”. E por ser “indivíduo” é individual, isto é, é diferente de mim e nem sempre vai me agradar. Se eu for fiel ao propósito de Jesus, quando o desagrado vier, irei ser paciente, e tentarei expor o meu sentimento sem ferir, buscando, dependendo do caso, a solução do problema e, sempre, crescer e ajudar o outro a crescer também.
 
O cristão verdadeiro, deve amar verdadeiramente. Este, o “segundo mandamento mais importante”(5).
Mas será que sozinho ele consegue? Não. Ora, se é a natureza humana imperfeita, somente uma relação profunda com o Senhor, que é perfeito, através do conhecimento da Sua Palavra é que irá nos encaminhar para esse amor de poder transformador. Mas conhecer a Palavra não é tê-la como livro de cabeceira, artigo de decoração da sala, material de pesquisa histórica, ou apenas dizer “eu creio que a Bíblia foi escrita por homens, mas inspirada por Deus”. Conhecer a Palavra é tê-la como manual de vida. Somente ao passo que aceitamos de verdade as Escrituras como as palavras da “Verdade”(6), que é Jesus e aceitamos a Jesus como Senhor, admitindo que o devemos obediência por sermos seus servos é que estamos, efetivamente, sendo fiéis à Palavra de Deus e aprendendo a amar com tamanha divindade.
 
Não adianta de nada nos atermos a doutrinas que contrariam a Palavra de Deus, nem irmos à Igreja toda semana, porque Deus não reside em um Templo construído por seres humanos; não faz sentido pagarmos mensalmente o dízimo, se a religião verdadeira para Deus é ajudar aos pobres e as viúvas (7); quando dentro do nosso coração guardamos mágoas, orgulho ferido, ciúmes e tudo o que é mau. Só Jesus pode nos limpar de toda sujeira que nos é imposta pela nossa natureza impura. E Ele deseja isso. Basta que nos cheguemos a Ele em oração e, confessando nossas faltas recebamos o Seu perdão(8), fazendo o mesmo pelo próximo(9). Perdoando. Aceitando. Não desistindo dele (10).
 
Na oração do Pai Nosso, Jesus nos ensina a pedir a Deus o perdão e a perdoarmos o próximo na mesma medida(11). O perdão de Deus é gratuito e é assim que o nosso perdão também deve ser. Há uma grande diferença entre desculpar e perdoar. Quando des – culpo, admito a culpa e a tiro; é superficial; quando per – dôo, eu faço uma doação. Perdoar vem do latim, perdonare, e quer dizer por doar. Eu me dôo. Simples assim. Eu admito que o outro é falível e que eu também sou e que não compete a mim julgar alguém igual a mim.
 
A questão do perdão é bem difícil, se formos tentar entender humanamente. Temos que ver como Deus vê. O perdão de Deus, o Sangue Precioso derramado por Jesus, símbolo de uma nova aliança de Deus com os homens, é algo humanamente passível de entendimento? Você derramaria seu Sangue na cruz do Calvário por alguém que rejeita você todos os dias? Ora, jamais poderemos compreender enquanto humanos o perdão de Deus. Mas ele não pede para compreendermos; não nos é possível (12), ele pede para que nos igualemos ao outro. Podemos pensar diante de um determinado erro de nosso próximo que jamais cometeríamos erro tão absurdo quanto ao dele e que ele é indigno de nosso perdão, que terá que pagar o preço sofrendo. Mas, sabemos, é mero orgulho nosso. Não somos ninguém para julgar o outro. Viemos do mesmo lugar, para o mesmo lugar voltaremos; cometemos no passado erros ainda piores ou ao menos parecidos. O fato é que para Deus, matar e cometer adultério são a mesma coisa: desobediência à Sua Palavra(13). Quem sou eu para achar meu erro menor que o do outro e torná-lo indigno da minha misericórdia?
 
Mas quem é o próximo? Essa passagem bíblica (1 Coríntios 13), é muito usada no sentido de amor entre casais. Deve sê-lo sim. Mas, é preciso compreender que a prática do amor deve ser exercida para com todos os que nos cercam. É mais fácil amar àqueles quem vemos pouco, àqueles que não são muito diferentes de nós, à um filho, ou à alguém que não tenha cometido um erro que tenha nos magoado. Mas o próximo é todo ser humano, por mais falho que ele seja. E quanto mais falho ele for, e mesmo assim o amarmos, melhor ainda estará sendo o exercício do nosso papel enquanto cristãos. Jesus ensina, inclusive, a amarmos, também, os nossos inimigos(14). Inimigo é todo aquele que cria ou com o qual criamos uma relação de inimizade seja por diferenças existentes entre nós, seja por uma mágoa, seja pelo que for. Temos de amá-lo.
 
Como dito antes, o verdadeiro amor corrige sim. Mas jamais é agressivo. O amante a’là Jesus Cristo, em momento algum se sentirá o “senhor da razão”, colocando-se acima do próximo. Ele se igualará. Se o seu próximo se demonstrar arrependido do seu erro, ele irá perdoá-lo – e não apenas desculpá-lo. Ele deve pensar: “também sou falho”; dizer como se sentiu sem ser grosseiro(15), e tentar ajudar o outro a não errar mais, permanecendo ao lado dele.(16) Reter orgulho e ressentimento nos faz caminhar ao vazio espiritual. Quando guardo rancores não cresço e não faço o outro crescer.
 
No amor entre casais deve ser assim também. Quando temos uma relação amorosa com alguém é porque após ter despertado entre nós um sentimento humano e normal, fazemos a escolha de nos relacionarmos com essa pessoa. O fato é que por o amor humano ser egoísta acabamos por nos projetarmos no parceiro e fazemos exigências, como propriedade nossa ele fosse. Para que um relacionamento entre homem e mulher dê certo, a base sólida deve ser o amor cristão. O amor-doação, que vai nos fazer crescer ao lado do parceiro naturalmente, sem que precisemos impor a ele as nossas vontades.
 
A Bíblia nos diz que o marido pertence a esposa e a esposa ao marido(17). Isso não quer dizer que eu devo tratar meu companheiro como meu objeto pessoal. Isso quer dizer que eu, esposa, devo saber que fiz a escolha de estar com meu marido e que preciso amá-lo sem exigir nada em troca; e você marido, de igual modo, deve me amar sem esperar honrarias. Eu posso falhar e você também. Cabe a cada um de nós fortalecer o relacionamento pessoal com Cristo e buscar nEle o fortalecimento desse amor.
 
Se realmente nos esforçarmos para ter amor, em tudo seremos felizes(18). Ter amor é ter a Deus, porque Deus é amor(19). E ter a Deus, é não precisar de mais nada(20).
 
Carinho e amor
Fernanda.
Fonte:  http://www.paralerepensar.com.br/ellenvieira_oamorcristao.htm

 

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